Embora não exista o dízimo na doutrina dos
apóstolos, nos é comunicado sobre a beneficência no Corpo de Cristo, isto é, o
ato de socorrer os mais pobres e enfermos na Igreja. Temos o dever indissolúvel,
sempre que pudermos, de prover alimento, vestes ou quantias em dinheiro aos
necessitados e àqueles que se dedicam integralmente ao trabalho do evangelho.
Não devemos, jamais, nos envergonhar do modo simples como Jesus nos ensina a
cuidar uns dos outros na Igreja, pois, no mundo, as coisas ocorrem de maneira
semelhante entre os pagãos e ninguém se envergonha. A diferença é que no mundo
as pessoas se orgulham de seus próprios atos de “caridade” e se empenham em
fazê-lo em troca da salvação e para serem vistas pelos homens, enquanto nós,
cristãos, somos ordenados a fazer com que “a nossa mão esquerda não
veja o que faz a nossa direita” (Mt 6.3). No princípio da Igreja, os
primeiros cristãos até chegaram a ter tudo em comum, dividindo até mesmo suas
terras e heranças com os irmãos menos favorecidos; mas a ruína que se instalou
no testemunho cristão tornou esse ato impraticável. É por isso que nas
epístolas nós temos ordens específicas de como reorganizar tudo isso.
No Novo Testamento, os cristãos são exortados a não se esquecerem "da
beneficência e comunicação, porque com tais sacrifícios Deus se agrada" (Hb
13.16). A caridade jamais deve ser praticada na tentativa de conquistar a
salvação, pois a salvação foi concedida ao crente de graça, pela fé em Cristo
Jesus (Ef 2.8-9). Não somos salvos “pelas” boas obras, mas “para” as boas obras,
“as quais Deus preparou para que
andássemos nelas” (Ef 2.10). Temos o dever de ajudar nossos irmãos porque o
que Deus nos dá não deve ser considerado como sendo de nós mesmos. Todo cristão
deve entender que é apenas despenseiro (responsável pela despensa) de Deus para
distribuir o que Deus lhe dá com sabedoria e para suprir as necessidades da
obra e do povo de Deus.
Assim como o Senhor Jesus foi liberal, dando Sua própria vida por nós, o
Espírito, através dos apóstolos, exorta: "Portanto, tive por coisa
necessária exortar estes irmãos, para que primeiro fossem ter convosco, e
preparassem de antemão a vossa bênção, já antes anunciada, para que esteja
pronta como bênção, e não como avareza. E digo isto: Que o que semeia pouco,
pouco também ceifará; e o que semeia em abundância, em abundância ceifará" (2
Coríntios 9.5-6).
Ao contrário da Lei, quando o israelita era obrigado a devolver uma porcentagem
fixa em forma de sacrifício (dízimo) ao Templo de Jerusalém, é dito ao cristão para
que ele doe aos pobres da Igreja de Deus conforme a sua prosperidade. Jesus
ordena da seguinte forma: "Cada um contribua segundo propôs no seu
coração; não com tristeza, ou por necessidade; porque Deus ama ao que dá com
alegria. E Deus é poderoso para fazer abundar em vós toda a graça, a fim de que
tendo sempre, em tudo, toda a suficiência, abundeis em toda a boa obra;
conforme está escrito: Espalhou, deu aos
pobres; a sua justiça permanece para sempre" (2 Coríntios 9.7-9).
Como consequência natural dos atributos do Senhor, Deus promete a manutenção
das necessidades do crente, como abrigo e sustento. Isso não ocorre como no
Antigo Testamento, quando era prometido prosperidade e riquezas terrenas aos
israelitas. Ao contrário do que pregam os “teólogos da prosperidade”, Deus pode sim prover mais que o
necessário ao crente, porém, jamais para o crente se enriquecer ou receber
terras, etc. Deus provê o necessário ao crente para que ele possa ser mais
liberal em sua obra para o Senhor, e não para enriquecer-se.
NÃO
DEVEMOS DESEJAR RIQUEZAS TERRENAS
Ao se enlaçarem na heresia do “dízimo cristão”, muitos crentes se perdem no
desejo louco de acumular dinheiro e toda forma de riqueza terrena para si.
Pregadores da Teologia da Prosperidade estão sempre envenenando as mentes
incautas, levando-as ao desvario de suas mentes. Porém, a Palavra de Deus é
enfática em nos mostrar que o desejo de ser rico é loucura:
"Tendo, porém, sustento, e com que nos cobrirmos, estejamos com isso
contentes. Mas os que querem ser ricos caem em tentação, e em laço, e em muitas
concupiscências loucas e nocivas, que submergem os homens na perdição e ruína.
Porque o amor ao dinheiro é a raiz de toda a espécie de males; e nessa cobiça
alguns se desviaram da fé, e se traspassaram a si mesmos com muitas dores" (1
Timóteo 6.8-10). "Mas Deus lhe disse: Louco! esta noite te pedirão
a tua alma; e o que tens preparado, para quem será? Assim é aquele que para si
ajunta tesouros, e não é rico para com Deus" (Lucas 12.20-21).
A partir dessas referências bíblicas, fica fácil perceber que os ditos
“pregadores da prosperidade” transformam seus seguidores em loucos para que
caiam em laço, perdição e ruína; para que seus seguidores se desviem da fé e se
traspassem com muitas dores.
TODA
PROVISÃO DO CRENTE VEM DE DEUS
"Ora, aquele que dá a semente ao que semeia, também vos dê pão para comer,
e multiplique a vossa sementeira, e aumente os frutos da vossa justiça, para
que em tudo enriqueçais PARA TODA A BENEFICÊNCIA, a qual faz que por
nós se deem graças a Deus. Porque a administração deste serviço, não
só supre as necessidades dos santos, mas também é abundante
em muitas graças, que se dão a Deus. Visto como, na prova desta administração,
glorificam a Deus pela submissão, que confessais quanto ao evangelho de Cristo,
e pela liberalidade de vossos dons para com eles, e para com todos" (2
Coríntios 9.10-13).
Portanto, Deus nos provê e nos sustenta com o objetivo de nos fazer provedores
daqueles que têm necessidades e também daqueles que trabalham na obra do
evangelho sem pedir nada a ninguém. O fato de não pedirem não significa que não
necessitam. Muitas vezes esses homens, os quais trabalham somente em prol do
evangelho, necessitam da ajuda da Igreja e são exercitados a depender somente
do Senhor, o qual irá mover corações de indivíduos e assembleias para que
possam prover o necessário para eles, para que continuem a levar o evangelho e
o ministério da Palavra à frente. Sempre que um cristão ajuda alguém em suas
necessidades, tanto para supri-lo em sua pobreza como para que o evangelho
continue sendo pregado, ele está produzindo "graças a Deus...
muitas graças que se dão a Deus" (2Co 9.10-13). Com isso,
aprendemos que o propósito de toda a contribuição cristã não é o
enriquecimento, mas a glória de Deus. Sempre a glória de Deus.
O fato de congregarmos somente ao nome do Senhor (Mt 18.20), fora das
denominações e dos sistemas religiosos, isentos de heresias como a do “dízimo
cristão”, não torna as coisas mais baratas para nós. Na verdade, é melhor
pensarmos bem se estamos vivendo conforme os moldes estabelecidos por Deus a
respeito da beneficência para com todos os irmãos necessitados da Igreja de
Cristo ou se estamos vivendo na avareza e egoísmo de nossos corações, deixando
de lado aqueles que necessitam da nossa ajuda financeira. A motivação do crente
nas coisas de Deus nunca deve ser material, nem mesmo no sentido de dar ou
receber.
A propósito, não preciso nem falar sobre o que as denominações evangélicas
fazem para acumular riquezas em seus edifícios de pedras e em suas vidas
ímpias, tais como campanhas, votos, promessas e tantas outras coisas praticadas
na cristandade hoje, não é mesmo? Todo cristão genuíno sabe muito bem que tais
práticas não passam de mesquinharias de pessoas que desejam fazer barganha com
Deus para, de algum modo, se enriquecerem.
COMO
OS SERVOS DO SENHOR DEVEM
SER MANTIDOS FINANCEIRAMENTE?
Uma vez que aprendemos que os servos de Deus não devem jamais receber um
salário pelo que fazem na obra do Senhor, alguém poderá perguntar de que modo
esses servos devem ser mantidos financeiramente. Mais uma vez devemos buscar a
resposta na Palavra de Deus. O apóstolo Paulo, entre outros que serviam
juntamente com ele, é um exemplo de como os servos do Senhor devem efetuar seu
serviço para Ele (1Tm 1.16; Fp 3.17). Esses homens eram "servos de Jesus Cristo" e não servos de alguma
denominação religiosa ou divisão na Igreja (Rm 1.1; Fp 1.1; 2Pe 1.1; Jd 1.1
etc.). Eles realmente acreditavam que o Senhor os tinha enviado para fazer o
trabalho, e que se Ele verdadeiramente os enviara, certamente também cuidaria
deles. "Quem jamais milita à sua própria custa?" (1
Coríntios 9.7). Sendo assim, esses servos de Deus saíam em campo "nada
tomando dos gentios", pois confiavam em Deus e tinham a plena
convicção de que Ele supriria todas as suas necessidades (Fp 4.19). Todavia,
para agir desta forma é preciso que o servo do Senhor tenha fé. Nunca faltará
suprimento vindo de Deus para a obra a qual Ele nos enviou. Sempre que a obra é
feita à maneira de Deus, é certo que seremos supridos em todas as nossas
necessidades. O que deve ser mais uma vez ressaltado é que Deus jamais prometeu
deixar alguém rico na Igreja, mas sim prover tão somente o que precisamos.
Lembre-se do que já fora dito pela Bíblia aqui: “O desejo pela riqueza leva o homem à loucura” (Lc 12.20-21; 1Tm 6.8-10).
Nos primeiros dias da Igreja, haviam duas maneiras pelas quais os servos do
Senhor eram mantidos financeiramente:
1) Através do seu próprio trabalho.
Os servos do Senhor se mantinham a si mesmos trabalhando com suas próprias
mãos. O apóstolo Paulo é um exemplo disso. Ele trabalhava como fabricante de
tendas enquanto servia ao Senhor (At 18.3). Paulo diz o seguinte aos anciãos de
Éfeso: "Sim, vós mesmos sabeis que para o que me era necessário a
mim, e aos que estão comigo, estas mãos me serviram. Tenho vos mostrado em tudo
que, trabalhando assim, é necessário auxiliar os enfermos, e recordar as
palavras do Senhor Jesus, que disse: Mais bem-aventurada coisa é dar do que
receber" (Atos 20.34-35).
Aos Tessalonicenses, Paulo escreveu: "Nem de graça comemos o pão
de homem algum, mas com trabalho e fadiga, trabalhando noite e dia, para não
sermos pesados a nenhum de vós. Não porque não tivéssemos autoridade, mas para
vos dar em nós mesmos exemplo, para nos imitardes" (2 Tessalonicenses
3.8-9).
2) Através de doações da Igreja.
A segunda maneira pela qual os servos de Deus devem ser mantidos é através de
doações dos santos que desejam expressar sua comunhão com a obra na qual os
irmãos estão empenhados. Na época de Paulo, essas doações vinham de duas
fontes: (1) Das assembleias locais, conforme Paulo disse aos Filipenses: "Fizestes
bem em tomar parte na minha aflição. E bem sabeis também, ó filipenses, que, no
princípio do evangelho, quando parti da Macedônia, nenhuma igreja comunicou
comigo com respeito a dar e a receber, senão vós somente; porque também uma e
outra vez me mandastes o necessário a Tessalônica. Não que procure dádivas, mas
procuro o fruto que cresça para a vossa conta" (Filipenses 4.14-17);
(2) De indivíduos específicos, como ele menciona aos gálatas: "O
que é instruído na palavra reparta de todos os seus bens com aquele que o
instrui" (Gálatas 6.6 – cf. Hb 13.16; 1Tm 6.17-19).
Todavia, os servos do Senhor tomavam o cuidado de fazer a obra de Deus "nada
tomando dos gentios" (3Jo 1.7). Os "gentios" aqui eram
os incrédulos dentre aqueles para quem eles pregavam. Eles tinham esse cuidado
para se precaver de dar ao mundo uma impressão errada de que o evangelho é algo
que uma pessoa possa comprar. E esse é o padrão para a manutenção dos servos de
Deus nos dias de hoje.
Com relação ao segundo ponto, é triste observar que se trata de um dos vários
desastres da ruína no testemunho cristão. De um lado vemos homens corruptos e
hereges, já condenados por suas heresias de perdição, recebendo o dinheiro do
povo que promove suas pilantragens e cavilações disfarçadas de evangelho. De
outro lado, vemos homens que são genuínos servos do Senhor passando por
necessidades inefáveis, tanto na área da saúde quanto financeira, sem que
ninguém dentre os cristãos professos da atualidade os ajudem. Esse distúrbio
ocorre há vários séculos por causa das sérias consequências de se criar
denominações religiosas e preceitos de homens perversos que transtornam o
evangelho puro e simples do Senhor Jesus. Os assim chamados “pastores” vivem
como se fossem deuses, enquanto os verdadeiros embaixadores de Cristo na terra
passam fome e outras formas de necessidade.
Continua em: Jesus
mandou dar o dízimo?
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SUMÁRIO - O EVANGELHO sem Disfarces
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