Outra pergunta frequente, que surge depois que aprendemos
que o dízimo não faz parte dos princípios da Igreja de Deus, é esta: Jesus
mandou dar o dízimo ou não? Afinal, vemos Ele falando sobre isso nos
evangelhos, ordenando que os judeus paguem o dízimo.
Sim, Jesus disse em Mateus 23:23: "Ai de vós, escribas e fariseus,
hipócritas! pois que dizimais a hortelã, o endro e o cominho, e desprezais o
mais importante da lei, o juízo, a misericórdia e a fé; deveis, porém, fazer
estas coisas, e não omitir aquelas". E esta mesma ordem é repetida em
Lucas 11:42. No entanto, Jesus não estava falando com cristãos, mas sim com
judeus. A ordem de cumprir com a lei do dízimo foi dada claramente aos
“escribas e fariseus hipócritas”, pois eles só obedeciam aquilo que lhes
convinha. A Igreja nem mesmo existia nesse contexto e, portanto, Jesus não
poderia estar falando com ela, já que ela viria a ser inaugurada em Atos 2.
Costumamos ver a Bíblia dividida de forma errada, onde os evangelhos fazem
parte do Novo Testamento. Mas isso foi uma tramoia arquitetada por hereges durante
a história a fim de transferir para a Igreja os comandos mais severos dados a
Israel. Na prática, o Novo Testamento começa no livro histórico de Atos, e não
nos evangelhos que obviamente nos mostram um contexto judaico somado a algumas
profecias, sinais e milagres de Jesus como uma forma de mostrar ao povo que Ele
era, de fato, o Filho Unigênito do Pai, o Deus encarnado. Não há Novo
Testamento sem a morte do Testador: “E
por isso [Jesus] é Mediador de um novo testamento, para que, intervindo a morte
para remissão das transgressões que havia debaixo do primeiro testamento, os
chamados recebam a promessa da herança eterna. Porque onde há testamento, é necessário que intervenha a morte do
testador. Porque um testamento tem
força onde houve morte; ou terá ele algum valor enquanto o testador vive?”
(Hebreus 9:15-17).
Sendo assim, é um grande erro se basear em passagens dos evangelhos para tentar
legitimar heresias como o “dízimo cristão”, pois, nessas passagens, muitas
outras ordens foram dadas claramente aos judeus porque eles ainda viviam
debaixo da lei.
Vejamos alguns exemplos:
1) Em Mateus 8:4 Jesus curou um leproso e lhe ordenou que fosse ao templo
oferecer os sacrifícios ordenados pelos sacerdotes de Israel: "vai
mostrar-te ao sacerdote e fazer a oferta que Moisés ordenou, para servir de
testemunho ao povo”. Esses sacrifícios haviam sido determinados em
Levítico 14:4-7 para todo aquele que fosse curado de lepra, e consistia em
sacrificar "duas aves vivas e limpas, e pau de cedro, e estofo
carmesim, e hissopo", uma das quais era morta "num vaso
de barro, sobre águas correntes", enquanto "a ave viva, e
o pau de cedro, e o estofo carmesim, e o hissopo" deviam ser
molhados "no sangue da ave que foi imolada sobre as águas
correntes. E, sobre aquele que há de purificar-se da lepra" o
sangue deveria ser aspergido "sete vezes; então, o declarará limpo
e soltará a ave viva para o campo aberto” (Lv 14:4-7)
E agora? Será que os advogados do dízimo darão ordens aos cristãos para que
cumpram também com esta lei? Como um cristão deveria agir nessas
circunstâncias, tendo em vista que não estamos em Israel, nem existe um
sacerdote e o Templo foi destruído? E, ainda que existisse o Templo, se um
cristão se atreve a ir até lá para tentar oferecer um sacrifício na mesquita
islâmica, a qual ocupa hoje o lugar do Templo, é muito provável que algum
radical islâmico transforme esse cristão em sacrifício. Outro problema é que o
cristão também teria dificuldades de encontrar um sacerdote da linhagem de
Levi, como devia ser no mandamento dado pela Lei de Moisés.
2) Jesus também ordenou que, em casos de desavença entre os crentes da velha
dispensação, a oferta levada até o altar deveria ser deixada perante o altar
enquanto a reconciliação não fosse concluída entre os irmãos: "Se,
pois, ao trazeres ao altar a tua oferta, ali te lembrares de que teu irmão tem
alguma coisa contra ti, deixa perante o altar a tua oferta, vai primeiro
reconciliar-te com teu irmão; e, então, voltando, faze a tua oferta” (Mateus 5:23-24).
Mais uma vez eu pergunto: e agora? Como o cristão deve prosseguir se um dia
entrar em desavença com um irmão? Ora, a desavença com o irmão é um pecado, e
sabemos que no Antigo Testamento, da mesma forma que o dízimo era obrigatório
os pecados exigiam sacrifício de animais. Como faremos para cumprir com esta
lei?
3) No mesmo capítulo que vimos no ponto 2, Jesus diz: "Porque em
verdade vos digo: até que o céu e a terra passem, nem um i ou um til jamais
passará da Lei, até que tudo se cumpra. Aquele, pois, que violar um destes
mandamentos, posto que dos menores, e assim ensinar aos homens, será
considerado mínimo no reino dos céus; aquele, porém, que os observar e ensinar,
esse será considerado grande no reino dos céus” (Mateus 5:18).
E agora? Como nós, cristãos, deveríamos fazer com a lei? Escolher uma aqui e
rejeitar outra lá? Não é bem assim que funciona. O dízimo, a oferta pela cura e
os sacrifícios pelos pecados, incluindo ofensas contra seu irmão, eram ditados
pela Lei dada a Moisés. Portanto, se o cristão quiser guardar um mandamento —
como o dízimo, por exemplo — ele terá também de guardar todos os outros.
Dito isto, talvez alguém venha a dizer que os sacrifícios de animais em nada
têm a ver com a lei do dízimo e que disso nós estamos isentos, uma vez que o
Cordeiro de Deus (Jesus) foi sacrificado por nós. A resposta para tal é que não
somente os sacrifícios de animais eram exigidos pela Lei, como também a pena de morte por causa da blasfêmia,
da maldição lançada sobre o pai e a mãe, do adultério, do sábado que devia ser
guardado, da prostituição (sexo entre solteiros), da homossexualidade, etc.
Todos esses casos eram punidos com a morte.
Vejamos alguns exemplos:
"Aquele que blasfemar o nome do Senhor, certamente morrerá; toda a
congregação certamente o apedrejará; assim o estrangeiro como o natural,
blasfemando o nome do Senhor, será morto" (Levítico
24:16).
"Quando um homem amaldiçoar a seu pai ou a sua mãe, certamente
morrerá; amaldiçoou a seu pai ou a sua mãe; o seu sangue será sobre ele" (Levítico
20:9).
"Também o homem que adulterar com a mulher de outro, havendo adulterado
com a mulher do seu próximo, certamente morrerá o adúltero e a adúltera" (Levítico
20:10).
"Seis dias se trabalhará, mas o sétimo dia vos será santo, o sábado do
repouso ao Senhor; todo aquele que nele fizer qualquer trabalho morrerá" (Êxodo
35:2).
"Porém se isto for verdadeiro, isto é, que a virgindade não se achou na
moça, então levarão a moça à porta da casa de seu pai, e os homens da sua
cidade a apedrejarão, até que morra; pois fez loucura em Israel,
prostituindo-se na casa de seu pai; assim tirarás o mal do meio de ti" (Deuteronômio
22:20,21).
"Quando também um homem se deitar com outro homem, como com mulher,
ambos fizeram abominação; certamente morrerão; o seu sangue será
sobre eles" (Levítico 20:13).
Se eu fosse citar todos os mandamentos semelhantes a esses na Bíblia, daria um
livro inteiro sobre a pena de morte para tais crimes. Sim, todos esses pecados
são crimes na teocracia de Israel.
Voltemos, então, ao tema Dízimo: qual era o mandamento referente a isso?
"Também todas as dízimas do campo, da semente do campo, do fruto das
árvores, são do SENHOR; santas são ao Senhor..." (Levítico 27:30
etc.).
Jesus era judeu e, portanto, cumpriu com todos os mandamentos da dispensação da
lei. E é por isso que Ele ordenou que os escribas e fariseus dessem o dízimo.
Ele deu tal ordem porque o contexto dos evangelhos naquela ocasião é o
judaísmo e Ele está tratando com judeus, o povo escolhido por Deus para habitar
na terra. Havia o Templo, havia sacerdotes, sacrifícios, pena de morte por
apedrejamento para adúlteros, para virgens que fornicavam, para homossexuais e
até para filhos que ofendessem os pais; além dos sacrifícios de animais (dízimos) que
eram requeridos em vários outros casos, como no caso da troca pela cura da lepra.
Ao não entenderem o que na Bíblia é dito a Israel, sob a Lei, e o que é dito à
Igreja, sob a graça, a qual só foi formada depois do período dos evangelhos, no
capítulo 2 de Atos, as pessoas que fazem parte do sistema religioso
denominacional sempre precisam escolher o que da Lei irão ou não cumprir. É
isso que a maioria das religiões “cristãs” fazem, especialmente as que seguem a
Teologia do Pacto. Essas pessoas simplesmente não entendem as diferentes
dispensações da Bíblia.
Não obstante, ao fazerem isso — ou seja, escolher qual mandamento da Lei irá ou
não cumprir — essas pessoas estão tropeçando naquilo que Jesus disse: "Aquele,
pois, que violar um destes mandamentos, posto que dos menores, e assim ensinar
aos homens, será considerado mínimo no reino dos céus; aquele, porém, que os
observar e ensinar, esse será considerado grande no reino dos céus." (Mateus
5:18).
Agora, preste muita atenção neste versículo:
"Porque qualquer que guardar toda a lei, e tropeçar em um só ponto,
tornou-se culpado de todos." (Tiago 2:10).
Se você olhar com atenção para esta passagem, verá que todo o dinheiro que você
deu a vida inteira para essas denominações religiosas heréticas de nada valeu se
você deixou de cumprir qualquer outro ponto da Lei, e será culpado de todos os
mandamentos que deixou para trás.
Para piorar as coisas, até na hora de dar o dízimo você certamente não cumpriu
tudo do jeito que estava escrito: "Trazei todos os dízimos à casa
do tesouro" (Malaquias 3:10). A "casa do
tesouro" não é a tesouraria de algum edifício chamado
"igreja", abrigado em um templo de tijolos feito por homens. A "casa
do tesouro" era um aposento do Templo de Jerusalém que foi destruído
há quase dois mil anos. Esse lugar não existe mais. Portanto, pergunto aos
“dizimistas” modernos: Para onde vocês irão levar os seus dízimos?
Continua em: Ainda
sobre as leis da Bíblia
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SUMÁRIO - O EVANGELHO sem Disfarces
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