Vivemos em uma época em que os cristãos têm uma
visão triunfalista da Igreja, como se ela fosse uma instituição filantrópica
que irá dominar o mundo pelo fato de ser o povo de Deus na terra. É o que eu
costumo chamar de “Teologia do Domínio”. Em grande parte, isso acontece por
causa da crença na Teologia do Pacto (ou aliancismo, como é comumente conhecida
nos meandros dos seminários teológicos das instituições religiosas). Os
seguidores dessa teologia creem que as promessas de prosperidade e vitória
terrenas contidas no Velho Testamento estão endereçadas a nós, a Igreja de
Deus. Grave engano! Aquelas promessas foram feitas claramente ao remanescente
judeu fiel que ainda terá suas promessas cumpridas no futuro. Por enquanto,
Israel continua em estado de torpor e cegueira, pois Deus está em constante
tratativa com a Igreja agora, visto que estamos na dispensação da graça. Ainda
nos resta uma dispensação: A dispensação da plenitude dos tempos, onde um reino
de justiça e descanso virá sobre a terra. Será o reinado de Cristo por mil
anos. A crença de que a Igreja seja uma espécie de continuidade de Israel e que
isso significa que ela conquistará o mundo e converterá a maioria dos corações
influencia diretamente a nossa atitude e conduta diante do mal que sempre
prevalece no mundo, e isso não deveria ser uma surpresa para o cristão. Jesus
nunca disse que teríamos um lugar de destaque no mundo. Pelo contrário – Ele
disse que seríamos perseguidos e mortos por sermos cristãos. Um dentre muitos
erros que cometemos é o de nos intrometer na política deste mundo. Na verdade,
o cristianismo não é triunfalista e não tem o dever de transformar este mundo
em um lugar agradável ao cristão. Até porque as segundas epístolas se
encarregam de profetizar sobre o fracasso do testemunho da Igreja na terra, não
de seu sucesso. Assim como Israel falhou, a Igreja também falhou. E é
necessário que a Igreja fracasse porque assim foi profetizado para que Cristo a
arrebate antes das coisas piorarem (pois elas vão PIORAR). Não temos uma pátria
aqui. Nossa pátria está nos céus.
Nosso Senhor Jesus Cristo há de nos arrebatar nos ares a qualquer momento.
"Ora vem, Senhor Jesus" – Esse sim deve ser o nosso desejo frequente
– o arrebatamento, não a melhoria de um mundo condenado e com data de
vencimento!
Na história vemos que a ideia herética de que a Igreja seja a continuidade de
Israel, e que por isso ela deve conquistar o mundo, produziu algumas
aberrações, tais como o desejo de destruir os judeus, a começar pelos católicos
(Inquisição) e depois por protestantes (Alemanha). Um exemplo disso é Lutero,
que tinha uma aversão mórbida pelos judeus, como se eles fossem um câncer no
desenrolar da história do mundo. Apesar de Deus ter usado Sua Palavra para
resgatar a doutrina da “salvação pela graça” e “justificação pela fé” por meio
de Lutero, o mesmo não pode ser dito a respeito da amargura que ele tinha
contra os judeus devido à má compreensão sobre o povo terrenal de Deus –
Israel.
O sentimento de anti-semitismo de Martinho Lutero pode ser visto em um de seus
escritos:
"Em primeiro lugar, suas sinagogas deveriam ser queimadas... Em segundo
lugar, suas casas também deveriam ser demolidas e arrasadas... Em terceiro,
seus livros de oração e Talmudes deveriam ser confiscados... Em quarto, os
rabinos deveriam ser proibidos de ensinar, sob pena de morte... Em quinto
lugar, os passaportes e privilégios de viagem deveriam ser absolutamente
vetados aos judeus... Em sexto, eles deveriam ser proibidos de praticar a
agiotagem... Em sétimo lugar, os judeus e judias jovens e fortes deveriam pôr a
mão no debulhador, no machado, na enxada, na pá, na roca e no fuso para ganhar
o seu pão no suor do seu rosto... Deveríamos banir os vis preguiçosos de nossa
sociedade ... Portanto, fora com eles... Resumindo, caros príncipes e nobres
que têm judeus em seus domínios, se este meu conselho não vos serve, encontrai
solução melhor, para que vós e nós possamos nos ver livres dessa insuportável
carga infernal – os judeus". ("Concerning the Jews and
their lies" - por Martinho Lutero).
Como se pode ver, a mente de Martinho Lutero, por consequência da Teologia do
Pacto que permeou a cristandade em seu tempo e se alastrou pelo mundo até o
século 19, era completamente cega quanto ao futuro profetizado para Israel na
Bíblia. Lutero não tinha nenhuma compreensão sobre as dispensações das
Escrituras e os desdobramentos delas.
Outra aberração que podemos constatar na crença de que o cristianismo precisa
primeiro conquistar e dominar o mundo para que Cristo possa voltar são as
cruzadas, antigas e modernas, em sua ânsia conquistadora de dominar a terra e
transformá-la em um “mundo cristão”. O desejo norte-americano de uma hegemonia
ocidental, que às vezes faz uso de meios militares para atingir tal fim, faz
parte do programa da “Teologia do Domínio” (ou Teologia do Pacto, para ser mais
exato). A Teologia do Domínio, professada pelo ex-presidente Bush e por parte
dos batistas fundamentalistas do sul dos Estados Unidos, vem desse desejo.
TEMOS QUE PREGAR O “EVANGELHO” A TODA CRIATURA NO MUNDO PARA QUE CRISTO
POSSA RETORNAR PARA ARREBATAR A SUA IGREJA?
Outras consequências podem ser vistas por causa desse pensamento a respeito de
Israel e Igreja. Por conta das pessoas pensarem que não existe um futuro para
Israel e que tal futuro seria a Igreja, elas automaticamente são levadas a
concluir que os comandos de se “pregar o evangelho aos quatro cantos do mundo
para Cristo poder voltar” são para os cristãos.
Essas pessoas imaginam que é necessário que todo homem, em cada lugar do mundo,
deve ser evangelizado como condição prévia para a volta de Cristo, quando, na
verdade, a ordem do "Ide" em Mateus 10.7 e 24.14 foi
dada aos apóstolos em circunstâncias claramente judaicas. Ou seja, Jesus estava
falando do "evangelho do Reino" ali. O evangelho do
reino é aquele que anuncia a volta do Rei de Israel. É muito importante
entender isto: que o evangelho do reino, descrito por Jesus nestas ocasiões,
não é o evangelho da graça. Uma nova aliança será feita com Israel no Milênio,
após a Tribulação (Jr 31.31-33), não com a Igreja. A Igreja não teve uma velha
aliança e nem terá uma nova, visto que ela só veio a ser inaugurada em Atos 2.
Não existe Igreja no Velho Testamento, e isso inclui os evangelhos de Mateus,
Marcos, Lucas e João. Quando falamos da nova aliança, estamos nos referindo a
Israel, o povo terrenal de Deus. O remanescente de judeus que virá a sofrer na
Tribulação dará testemunho durante os sete anos de Tribulação, levando o
evangelho do Reino a toda criatura. Sim, a ordem do “ide” foi dada claramente aos apóstolos em circunstâncias judaicas,
falando do evangelho do reino, aquele que anuncia o retorno do Rei de Israel
após a Tribulação (Mt 28.19). Esse não é o evangelho da graça, o qual pregamos
hoje.
O evangelho da graça diz: “Crê no Senhor
Jesus Cristo e serás salvo” (Atos 16.31). O evangelho do Reino, que foi
pregado por João Batista aos judeus de sua época e que ainda voltará a ser
pregado pelo remanescente judeu no futuro, diz: “Arrependei-vos, porque é chegado o reino dos céus” (Mateus 3.2).
Um é o evangelho da graça; o outro é o evangelho do Reino.
Segundo os que pensam que devemos pregar o “evangelho do reino” a toda criatura
para Jesus voltar, enquanto o mundo não for totalmente evangelizado Cristo não
poderá retornar para arrebatar a Sua igreja, o que Ele prometeu com tanta
veemência. Portanto, segundo os que interpretam a Bíblia com tudo junto e
misturado, seria bobagem crer que o Senhor poderia vir a qualquer momento para
arrebatar a Sua amada Noiva (Igreja), como era a esperança de Paulo e de
outros, os quais obviamente sabiam que o evangelho da graça não seria pregado
em todo o mundo dentro do período de suas vidas.
Veja o que Paulo diz aqui: “Depois NÓS, OS QUE FICARMOS VIVOS, seremos
arrebatados...” (1 Tessalonicenses 4.17). Paulo tinha esperança de
ser arrebatado ainda vivo, e essa deve ser a nossa esperança também: o
arrebatamento, quando Cristo vier nos ares para nos levar para a Casa do Pai (o
Céu – 1Ts 4.13-18; Ap 3.10).
Se antes Deus olhava para o mundo e enxergava apenas dois povos, Israel e gentios,
hoje Deus enxerga três: Israel, gentios e Igreja. Veja: “Portai-vos
de modo que não deis escândalo nem aos judeus, nem aos gregos [gentios], nem à
igreja de Deus” (1 Coríntios 10.32).
Ora, se o Espírito Santo de Deus faz essa distinção nas Escrituras, quem somos
nós para dizer que Israel e Igreja são a mesma coisa? Quem nos persuadiu a crer
em uma aberração dessas? Ora, Paulo não faria tal distinção entre esses três
povos se a Igreja fosse apenas uma continuidade de Israel, e nem falaria de um
futuro ainda a ser realizado para Israel em Romanos 11 e em várias outras
passagens de suas epístolas.
A IGREJA FALHOU E NÓS VIVEMOS OS ÚLTIMOS
TEMPOS
Quando consultamos a Palavra de Deus, podemos constatar que quase todos os
escritores do Novo Testamento previram que a ruína e o abandono da Palavra de
Deus entrariam no testemunho cristão. Portanto, não deveria ser uma grande
surpresa para nós quando víssemos esse abandono da ordem de Deus na criação de instituições
ou denominações religiosas se autoproclamando “igrejas”. Trata-se daquelas
construções com adornos judaicos onde um (assim chamado) “pastor” preside a
congregação (algo que nunca é visto na Bíblia).
AS “SEGUNDAS” EPÍSTOLAS SÃO PROFECIAS
SOBRE A FALHA NO TESTEMUNHO CRISTÃO
As "segundas" epístolas do Novo Testamento se ocupam particularmente
deste assunto. Cada epístola revela algum aspecto da fé cristã sendo abandonado
e, consequentemente, assinala o caminho para aqueles que são fiéis seguirem em
cada situação.
1. A 2ª epístola aos Efésios descreve
o abandono do primeiro amor (Ap 2.1-7).
2. A 2ª epístola aos Tessalonicenses
trata do abandono da bendita esperança – o arrebatamento (a vinda do Senhor nos
ares para levar consigo a Igreja para o Céu).
3. A 2ª epístola de João considera a
gravidade de se abandonar a doutrina de Cristo.
4. A 2ª epístola de Pedro apresenta
o abandono da piedade prática.
5. A 2ª epístola aos Coríntios
trata, dentre outras coisas, do abandono da autoridade apostólica conforme é
encontrada nas Escrituras.
6. A 2ª epístola a Timóteo nos fala
do abandono da ordem na casa de Deus (Esta está particularmente conectada ao assunto
que estamos tratando).
O TESTEMUNHO DE PAULO
O apóstolo Paulo nos alertou para o fato de que haveria um grande abandono da
Palavra de Deus entre os cristãos professos. Ele disse: "Porque eu sei isto que,
depois da minha partida, entrarão no meio de vós lobos cruéis, que não pouparão
ao rebanho; e que de entre vós mesmos se levantarão homens que falarão coisas
perversas, para atraírem os discípulos após si" (Atos 20.29-30).
Em suas epístolas a Timóteo, ele mencionou aqueles que naufragariam na fé (1Tm
1.19-20), que apostatariam da fé – do conjunto formado pela verdade cristã (1Tm
4.1-3), que se afastariam da fé (1Tm 6.10), que se desviariam da fé (1Tm 6.20-21),
que perverteriam a fé de outros por meio de seus ensinos heréticos (2Tm 2.18), e
que se tornariam reprovados quanto à fé (2Tm 3.8). Ele disse que chegaria um
tempo em que os cristãos professos, de um modo geral, não suportariam a sã
doutrina, mas desviariam seus ouvidos da verdade, voltando-se para as fábulas
que não têm qualquer fundamento na Palavra de Deus (2Tm 4.2-4). Ele disse que
os padrões morais no testemunho cristão também se degenerariam até chegarem ao
mesmo nível dos praticados entre os pagãos (2Tm 3.1-5; cf. Rm 1.28-32). Ele
falou de impostores que se levantariam professando conhecer a verdade, os quais
imitariam os poderes miraculosos de Deus em uma tentativa de resistirem à
verdade (2Tm 3.7-8). Ele também falou que as coisas NÃO melhorariam, mas que "homens maus e enganadores"
dentro do testemunho cristão (pois é este o contexto do artigo) iriam "de mal para pior" (2Tm 3.13).
Basta darmos uma olhada superficial no testemunho cristão de nossos dias para
vermos que todas essas previsões chegaram ao seu triste cumprimento.
O TESTEMUNHO DE MATEUS
Nas parábolas do reino dos céus o apóstolo Mateus indica o mesmo abandono da
ordem de Deus. Nelas o Senhor Jesus disse que um inimigo (Satanás) viria e
semearia "joio no meio do trigo". Isto indica que no reino dos céus
haveria a intromissão de professantes falsos e sem vida. Como resultado disso,
o reino teria uma mistura de crentes verdadeiros (trigo) e falsos professantes
(joio), os quais não seriam separados até o fim desta era (Mt 13.24-30,38-41).
Mateus registra que o Senhor Jesus ensinou às multidões que um vasto sistema
cresceria a partir da simplicidade original do cristianismo, e que, no final,
não sobraria qualquer semelhança daquilo que era no princípio. Isso nos fala
claramente do abandono da simplicidade da Igreja e do início de um sistema
institucionalista cheio de denominações religiosas, cada qual com sua doutrina
preconcebida, o qual dividiria o “Corpo de Cristo”. Ele usou a figura de uma
"semente de mostarda" sendo plantada na terra e crescendo demais, até
se tornar uma imensa árvore, na qual as aves do céu viriam se aninhar. A grande
árvore nos fala de domínio e poder (Ez 31.3-7; Dn 4.10,11,22-34). O Senhor
indicava, assim, que a profissão cristã se desenvolveria na forma de uma grande
instituição mundana, dando ao cristianismo um aspecto de grandeza e pretensão.
A profissão cristã acabou se transformando em um grande sistema de religião,
política e negócios. Nela os homens se esforçam para conseguir honra, grandeza
e poder. As "aves do céu" nos falam de espíritos malignos (Ap 18.2)
que se apoderariam das mentes dos homens e os influenciariam para que
ensinassem doutrinas de demônios (1Tm 4.1).
Se você já teve a oportunidade de presenciar o barulho que sai de uma árvore
cheia de pássaros, certamente entendeu o quão exata é essa figura da confusão
que existe no testemunho cristão. As aves estão todas gorjeando ao mesmo tempo,
todas elas aparentando ter algo a dizer, mas suas vozes são todas conflitantes.
É isso o que ouvimos quando atentamos para as milhares de vozes das várias
assim chamadas “igrejas” existentes na cristandade (Mt 13.31-32).
O Senhor Jesus continuou, falando da mulher que introduziu "fermento"
em "três medidas de farinha" (Mt 13.33). Isso nos fala de outro
aspecto da ruína que se abateu sobre a profissão cristã. Se as aves na imensa
árvore ilustram a grande confusão na profissão externa da cristandade, por meio
da criação de denominações religiosas (instituições), a qual iria se
desenvolver, o fermento na massa nos fala da grande corrupção interna que
acabaria permeando a cristandade. Nas Escrituras, o fermento é uma figura ou
tipo do mal (Mt 16.6; Mc 8.15; 1Co 5.6-8; Gl 5.7-10). A "massa" é uma
figura de Cristo, que é "o Pão da vida". É Ele o alimento espiritual
dos filhos de Deus (Jo 6.33-35,51-58). Portanto, o Senhor indicou que a Igreja
professa (a mulher) iria corromper o alimento dos filhos de Deus ao introduzir
má doutrina na Igreja, misturando-a com a verdade acerca da Sua Pessoa. E foi
exatamente o que aconteceu. Na vasta profissão da cristandade, muitos ensinos
heréticos e malignos têm sido associados à Pessoa de Cristo.
Sendo assim, estas três parábolas no evangelho de Mateus indicam que haveria a
introdução de pessoas malignas (Mt 13.24-30), espíritos malignos (Mt 13.31-32;
1Tm 4.1) e doutrinas malignas (Mt 13.33).
Algumas outras similaridades do reino, no evangelho de Mateus, também indicam
essa ruína que acabaria se introduzindo na Igreja. Por exemplo, Mateus 25.1-13
diz que todas as dez virgens tosquenejaram e adormeceram. Elas estavam dormindo
quando deveriam estar vigilantes.
O TESTEMUNHO DE PEDRO
O apóstolo Pedro também falou dos ensinos malignos que surgiriam no testemunho
cristão. Ele disse que falsos mestres se levantariam dentre os santos de Deus e
introduziriam "heresias de perdição" que muitos seguiriam – até ao
ponto de falarem mal do caminho da verdade (2Pd 2.1-3; 3.16).
Heresia não é somente ensinar má doutrina, mas criar seitas – denominações. Uma
"heresia" ou "seita" é, por definição, a criação de um
partido ou divisão dentro de uma igreja, o qual rompe com as demais denominações
e forma a sua própria comunhão em torno de uma opinião particular ou doutrina
preconcebida. Embora a heresia esteja conectada ao ensino de coisas heterodoxas
e blasfemas, ela é, na sua mais pura essência, a formação de uma divisão
notória na Igreja. A heresia, predominantemente, está associada à formação de
denominações (sectarismos ou seitas). Por se afiliarem a essas denominações
criadas por homens, os membros dessas instituições constantemente pensam em
heresia apenas como um errinho teológico ou “questão secundária” (termo muito
usado hoje pelos liberalistas teológicos). A mais sutil de todas as heresias é
aquela que se desenvolve em torno de alguma parcela da verdade até excluir
outras verdades. Podem existir muitos verdadeiros crentes conectados a essas
heresias. Todavia, uma "heresia de perdição", da qual Pedro fala, é
uma seita (denominação) que constrói sua causa em torno de doutrinas
destruidoras de almas.
Quando observamos a vasta profissão da cristandade, vemos todas as inúmeras
divisões e seitas que existem na igreja. Segundo estatísticas recentes, existem
hoje mais de mil comunhões denominacionais! Felizmente podemos dizer que alguns
desses grupos eclesiásticos não se constituem heresias "de perdição",
embora não deixem de serem divisões na Igreja, o que desemboca inevitavelmente
em sectarismo. Além disso, não podemos nos esquecer de que as Escrituras nos
ordenam a rejeitar a heresia porque é uma obra da carne (Tt 3.10,11; 1Co 11.19;
Gl 5.20). “Ao homem herege, depois de uma ou duas admoestações, evita-o, sabendo
que o tal está pervertido, e vive pecando, estando já em si mesmo condenado”
(Tito 3.10,11).
O TESTEMUNHO DE JOÃO
Enquanto o apóstolo Paulo nos alerta sobre aqueles que retrocedem às más
doutrinas, abandonando a revelação da verdade cristã (Hb 10.38-39), o apóstolo
João adverte a respeito daqueles que a ultrapassam (ou "prevaricam")
e não permanecem nela (2Jo 9). João falou desse desvio como resultado do
trabalho de mestres anticristãos. A respeito deles, João afirma: "Saíram
de nós, mas não eram de nós" (1 João 2.19).
Ao dizer "nós", aqui e em muitos outros lugares de sua epístola, João
está se referindo aos apóstolos. Sair da comunhão e doutrina dos apóstolos é o
mesmo que abandoná-las. Enquanto João se referia primariamente ao abandono da
doutrina concernente à Pessoa de Cristo, podemos ver que o testemunho cristão
não parou por aí. Muito daquilo que é aceito como ordem na igreja não tem
qualquer fundamento nos ensinos dos apóstolos. O que vemos nos faz lembrar o
que o Senhor disse aos Fariseus, ao afirmar que eles estavam "ensinando
doutrinas que são mandamentos de homens". Ele também disse: "Bem
invalidais o mandamento de Deus para guardardes a vossa tradição"
(Marcos 7.7,9).
O TESTEMUNHO DE JUDAS
Judas também nos diz que certos homens se introduziriam furtivamente entre os
cristãos e converteriam "em
dissolução a graça de nosso Deus" (Jd 1.4). Ele descreve o caráter dos
que corromperiam o testemunho cristão como pessoas que entrariam "pelo caminho de Caim", sendo
levadas "ao erro de Balaão",
e perecendo "na rebelião de
Coré" (Jd 1.11). Estas três coisas descrevem muito bem o tipo de erro
eclesiástico que hoje prevalece na cristandade.
Primeiro, há o "caminho de
Caim", que descreve a tentativa de se mostrar boas obras para Deus
como forma de ser aceito por Ele. Caim era um homem religioso por ter oferecido
um sacrifício a Deus, mas o que ele ofereceu a Deus, numa tentativa de obter
aceitação, foi obra de suas próprias mãos, sendo rejeitado por isso (Gn 4.1-5).
Sua oferta não tinha o sangue que prefiguraria o sacrifício cabal do sangue
derramado do Senhor Jesus Cristo, sem o qual ninguém pode ser abençoado por
Deus. Hoje está sendo pregado nos púlpitos de muitas denominações religiosas um
evangelho sem sangue, o qual nem mesmo é o evangelho. Por meio dele muitos têm
sido levados a crer que podem apresentar suas boas obras a Deus em troca de
aceitação e salvação, mesmo que a Bíblia indique claramente que a salvação
"não vem das obras" (Ef 2.8,9; Tt 3.5; Rm 4.4-8).
Em seguida vemos o "erro de
Balaão", que nos fala do desejo de ensinar coisas que não provêm de
Deus em troca de dinheiro e posição. Balaão se apresentou a Balaque e aos
moabitas como um profeta com a intenção de profetizar a eles visando prejudicar
o povo de Deus (Nm 22-24). Ainda que muitos pregadores de hoje talvez não
tenham a intenção de prejudicar o povo de Deus, muitos deles estão, do mesmo
modo, ensinando doutrinas estranhas à Igreja. Trata-se de homens que claramente
ensinam doutrinas que não são encontradas nas Escrituras para igualmente
buscarem posições elevadas na igreja.
Finalmente temos a "rebelião de
Coré", que é a organização de um partido de homens que desafiam a
ordem dada por Deus para o sacerdócio. Coré e seus correligionários queriam uma
posição acima do povo de Deus, a qual não lhes havia sido concedida por Deus.
Na profissão cristã existe uma organização similar de uma classe especial de
homens para presidirem sobre o rebanho de Deus, o que é conhecido como clero.
Esses homens falam deliberadamente do rebanho de Deus como se fosse o rebanho
"deles". Esse tipo de organização, da qual estamos tratando desde o
início deste artigo, pode muito bem ter surgido com boas intenções, e pode ser
que existam muitos que atualmente ocupam esse lugar de boa mente, mas mesmo
assim trata-se de um sistema de coisas que não tem qualquer fundamento na Palavra
de Deus. Em essência, tal sistema desafia o genuíno sacerdócio que pertence a
cada crente.
O TESTEMUNHO DO SENHOR
Finalmente, o próprio Senhor condena um grupo de pessoas que se levantaria na Igreja,
chamados de "nicolaítas"
(Ap 2.6,15). Essas pessoas introduziram impurezas no testemunho cristão; e pelo
significado de seu nome, muitos estudiosos da Bíblia concluíram que estas podem
muito bem ter sido as primeiras sementes do clericalismo. A palavra
"nico" significa "governar", e "laitan" – que é a
mesma palavra para laico – significa "povo". Os nicolaítas eram um
partido formado por pessoas que aparentemente buscavam meios de "governar sobre o povo" e,
por isso, poderiam muito bem ter sido o início do sistema que faz distinção
entre clero e leigos. O Senhor nos diz especificamente que as "obras"
e as "doutrinas" dos nicolaítas são coisas que Ele odeia (Ap 2.6,15).
Temos nisso tudo um testemunho abundante de quase todos os escritores do Novo
Testamento sobre o fato de que haveria um grande distanciamento da simplicidade
da fé cristã, do evangelho da graça e da Igreja (2Co 11.3-4). Os apóstolos nos
disseram que, em sua ausência, surgiria um sistema
de coisas que não teria qualquer fundamento na Palavra de Deus. É verdade
que em algumas igrejas ocorre uma parcela maior desse erro eclesiástico do que
em outras. Todavia, seja na basílica de São Pedro em Roma, seja na menor capela
evangélica, a maioria delas – se não todas – traz os princípios básicos do
clericalismo inseridos em seus sistemas de governo.
O crente que é instruído segundo os pensamentos de Deus não tem alternativa
senão admitir que aquilo que se apresenta aos homens como a Igreja de Deus hoje
tem pouca ou nenhuma semelhança com a Igreja de Deus conforme é apresentada nas
Escrituras. Sua pergunta poderá ser: "O que aconteceu?" Em poucas
palavras, a resposta é que nós (a Igreja) fracassamos.
Continua em: A
Casa de Deus em 1 Timóteo 3.15
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SUMÁRIO
- O EVANGELHO sem Disfarces
– Fonte 1: Facebook JP Padilha
– Fonte 2: Página JP Padilha
– Fonte 3: https://jppadilhabiblia.blogspot.com/
– Fonte 4: https://jppadilhabiblia2.blogspot.com/
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