quarta-feira, 13 de setembro de 2023

A ruína do testemunho cristão e a criação de denominações religiosas

Vivemos em uma época em que os cristãos têm uma visão triunfalista da Igreja, como se ela fosse uma instituição filantrópica que irá dominar o mundo pelo fato de ser o povo de Deus na terra. É o que eu costumo chamar de “Teologia do Domínio”. Em grande parte, isso acontece por causa da crença na Teologia do Pacto (ou aliancismo, como é comumente conhecida nos meandros dos seminários teológicos das instituições religiosas). Os seguidores dessa teologia creem que as promessas de prosperidade e vitória terrenas contidas no Velho Testamento estão endereçadas a nós, a Igreja de Deus. Grave engano! Aquelas promessas foram feitas claramente ao remanescente judeu fiel que ainda terá suas promessas cumpridas no futuro. Por enquanto, Israel continua em estado de torpor e cegueira, pois Deus está em constante tratativa com a Igreja agora, visto que estamos na dispensação da graça. Ainda nos resta uma dispensação: A dispensação da plenitude dos tempos, onde um reino de justiça e descanso virá sobre a terra. Será o reinado de Cristo por mil anos. A crença de que a Igreja seja uma espécie de continuidade de Israel e que isso significa que ela conquistará o mundo e converterá a maioria dos corações influencia diretamente a nossa atitude e conduta diante do mal que sempre prevalece no mundo, e isso não deveria ser uma surpresa para o cristão. Jesus nunca disse que teríamos um lugar de destaque no mundo. Pelo contrário – Ele disse que seríamos perseguidos e mortos por sermos cristãos. Um dentre muitos erros que cometemos é o de nos intrometer na política deste mundo. Na verdade, o cristianismo não é triunfalista e não tem o dever de transformar este mundo em um lugar agradável ao cristão. Até porque as segundas epístolas se encarregam de profetizar sobre o fracasso do testemunho da Igreja na terra, não de seu sucesso. Assim como Israel falhou, a Igreja também falhou. E é necessário que a Igreja fracasse porque assim foi profetizado para que Cristo a arrebate antes das coisas piorarem (pois elas vão PIORAR). Não temos uma pátria aqui. Nossa pátria está nos céus.

Nosso Senhor Jesus Cristo há de nos arrebatar nos ares a qualquer momento. "Ora vem, Senhor Jesus" – Esse sim deve ser o nosso desejo frequente – o arrebatamento, não a melhoria de um mundo condenado e com data de vencimento!

Na história vemos que a ideia herética de que a Igreja seja a continuidade de Israel, e que por isso ela deve conquistar o mundo, produziu algumas aberrações, tais como o desejo de destruir os judeus, a começar pelos católicos (Inquisição) e depois por protestantes (Alemanha). Um exemplo disso é Lutero, que tinha uma aversão mórbida pelos judeus, como se eles fossem um câncer no desenrolar da história do mundo. Apesar de Deus ter usado Sua Palavra para resgatar a doutrina da “salvação pela graça” e “justificação pela fé” por meio de Lutero, o mesmo não pode ser dito a respeito da amargura que ele tinha contra os judeus devido à má compreensão sobre o povo terrenal de Deus – Israel.

O sentimento de anti-semitismo de Martinho Lutero pode ser visto em um de seus escritos:

"Em primeiro lugar, suas sinagogas deveriam ser queimadas... Em segundo lugar, suas casas também deveriam ser demolidas e arrasadas... Em terceiro, seus livros de oração e Talmudes deveriam ser confiscados... Em quarto, os rabinos deveriam ser proibidos de ensinar, sob pena de morte... Em quinto lugar, os passaportes e privilégios de viagem deveriam ser absolutamente vetados aos judeus... Em sexto, eles deveriam ser proibidos de praticar a agiotagem... Em sétimo lugar, os judeus e judias jovens e fortes deveriam pôr a mão no debulhador, no machado, na enxada, na pá, na roca e no fuso para ganhar o seu pão no suor do seu rosto... Deveríamos banir os vis preguiçosos de nossa sociedade ... Portanto, fora com eles... Resumindo, caros príncipes e nobres que têm judeus em seus domínios, se este meu conselho não vos serve, encontrai solução melhor, para que vós e nós possamos nos ver livres dessa insuportável carga infernal – os judeus". ("Concerning the Jews and their lies" - por Martinho Lutero).

Como se pode ver, a mente de Martinho Lutero, por consequência da Teologia do Pacto que permeou a cristandade em seu tempo e se alastrou pelo mundo até o século 19, era completamente cega quanto ao futuro profetizado para Israel na Bíblia. Lutero não tinha nenhuma compreensão sobre as dispensações das Escrituras e os desdobramentos delas.

Outra aberração que podemos constatar na crença de que o cristianismo precisa primeiro conquistar e dominar o mundo para que Cristo possa voltar são as cruzadas, antigas e modernas, em sua ânsia conquistadora de dominar a terra e transformá-la em um “mundo cristão”. O desejo norte-americano de uma hegemonia ocidental, que às vezes faz uso de meios militares para atingir tal fim, faz parte do programa da “Teologia do Domínio” (ou Teologia do Pacto, para ser mais exato). A Teologia do Domínio, professada pelo ex-presidente Bush e por parte dos batistas fundamentalistas do sul dos Estados Unidos, vem desse desejo.

TEMOS QUE PREGAR O “EVANGELHO” A TODA CRIATURA NO MUNDO PARA QUE CRISTO POSSA RETORNAR PARA ARREBATAR A SUA IGREJA?

Outras consequências podem ser vistas por causa desse pensamento a respeito de Israel e Igreja. Por conta das pessoas pensarem que não existe um futuro para Israel e que tal futuro seria a Igreja, elas automaticamente são levadas a concluir que os comandos de se “pregar o evangelho aos quatro cantos do mundo para Cristo poder voltar” são para os cristãos.

Essas pessoas imaginam que é necessário que todo homem, em cada lugar do mundo, deve ser evangelizado como condição prévia para a volta de Cristo, quando, na verdade, a ordem do "Ide" em Mateus 10.7 e 24.14 foi dada aos apóstolos em circunstâncias claramente judaicas. Ou seja, Jesus estava falando do "evangelho do Reino" ali. O evangelho do reino é aquele que anuncia a volta do Rei de Israel. É muito importante entender isto: que o evangelho do reino, descrito por Jesus nestas ocasiões, não é o evangelho da graça. Uma nova aliança será feita com Israel no Milênio, após a Tribulação (Jr 31.31-33), não com a Igreja. A Igreja não teve uma velha aliança e nem terá uma nova, visto que ela só veio a ser inaugurada em Atos 2. Não existe Igreja no Velho Testamento, e isso inclui os evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João. Quando falamos da nova aliança, estamos nos referindo a Israel, o povo terrenal de Deus. O remanescente de judeus que virá a sofrer na Tribulação dará testemunho durante os sete anos de Tribulação, levando o evangelho do Reino a toda criatura. Sim, a ordem do “ide” foi dada claramente aos apóstolos em circunstâncias judaicas, falando do evangelho do reino, aquele que anuncia o retorno do Rei de Israel após a Tribulação (Mt 28.19). Esse não é o evangelho da graça, o qual pregamos hoje.

O evangelho da graça diz: “Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo” (Atos 16.31). O evangelho do Reino, que foi pregado por João Batista aos judeus de sua época e que ainda voltará a ser pregado pelo remanescente judeu no futuro, diz: “Arrependei-vos, porque é chegado o reino dos céus” (Mateus 3.2). Um é o evangelho da graça; o outro é o evangelho do Reino.

Segundo os que pensam que devemos pregar o “evangelho do reino” a toda criatura para Jesus voltar, enquanto o mundo não for totalmente evangelizado Cristo não poderá retornar para arrebatar a Sua igreja, o que Ele prometeu com tanta veemência. Portanto, segundo os que interpretam a Bíblia com tudo junto e misturado, seria bobagem crer que o Senhor poderia vir a qualquer momento para arrebatar a Sua amada Noiva (Igreja), como era a esperança de Paulo e de outros, os quais obviamente sabiam que o evangelho da graça não seria pregado em todo o mundo dentro do período de suas vidas.

Veja o que Paulo diz aqui: “Depois NÓS, OS QUE FICARMOS VIVOS, seremos arrebatados...” (1 Tessalonicenses 4.17). Paulo tinha esperança de ser arrebatado ainda vivo, e essa deve ser a nossa esperança também: o arrebatamento, quando Cristo vier nos ares para nos levar para a Casa do Pai (o Céu – 1Ts 4.13-18; Ap 3.10).

Se antes Deus olhava para o mundo e enxergava apenas dois povos, Israel e gentios, hoje Deus enxerga três: Israel, gentios e Igreja. Veja: “Portai-vos de modo que não deis escândalo nem aos judeus, nem aos gregos [gentios], nem à igreja de Deus” (1 Coríntios 10.32).

Ora, se o Espírito Santo de Deus faz essa distinção nas Escrituras, quem somos nós para dizer que Israel e Igreja são a mesma coisa? Quem nos persuadiu a crer em uma aberração dessas? Ora, Paulo não faria tal distinção entre esses três povos se a Igreja fosse apenas uma continuidade de Israel, e nem falaria de um futuro ainda a ser realizado para Israel em Romanos 11 e em várias outras passagens de suas epístolas.

A IGREJA FALHOU E NÓS VIVEMOS OS ÚLTIMOS TEMPOS

Quando consultamos a Palavra de Deus, podemos constatar que quase todos os escritores do Novo Testamento previram que a ruína e o abandono da Palavra de Deus entrariam no testemunho cristão. Portanto, não deveria ser uma grande surpresa para nós quando víssemos esse abandono da ordem de Deus na criação de instituições ou denominações religiosas se autoproclamando “igrejas”. Trata-se daquelas construções com adornos judaicos onde um (assim chamado) “pastor” preside a congregação (algo que nunca é visto na Bíblia).

AS “SEGUNDAS” EPÍSTOLAS SÃO PROFECIAS SOBRE A FALHA NO TESTEMUNHO CRISTÃO

As "segundas" epístolas do Novo Testamento se ocupam particularmente deste assunto. Cada epístola revela algum aspecto da fé cristã sendo abandonado e, consequentemente, assinala o caminho para aqueles que são fiéis seguirem em cada situação.

1. A 2ª epístola aos Efésios descreve o abandono do primeiro amor (Ap 2.1-7).

2. A 2ª epístola aos Tessalonicenses trata do abandono da bendita esperança – o arrebatamento (a vinda do Senhor nos ares para levar consigo a Igreja para o Céu).

3. A 2ª epístola de João considera a gravidade de se abandonar a doutrina de Cristo.

4. A 2ª epístola de Pedro apresenta o abandono da piedade prática.

5. A 2ª epístola aos Coríntios trata, dentre outras coisas, do abandono da autoridade apostólica conforme é encontrada nas Escrituras.

6. A 2ª epístola a Timóteo nos fala do abandono da ordem na casa de Deus (Esta está particularmente conectada ao assunto que estamos tratando).

O TESTEMUNHO DE PAULO

O apóstolo Paulo nos alertou para o fato de que haveria um grande abandono da Palavra de Deus entre os cristãos professos. Ele disse: "Porque eu sei isto que, depois da minha partida, entrarão no meio de vós lobos cruéis, que não pouparão ao rebanho; e que de entre vós mesmos se levantarão homens que falarão coisas perversas, para atraírem os discípulos após si" (Atos 20.29-30).

Em suas epístolas a Timóteo, ele mencionou aqueles que naufragariam na fé (1Tm 1.19-20), que apostatariam da fé – do conjunto formado pela verdade cristã (1Tm 4.1-3), que se afastariam da fé (1Tm 6.10), que se desviariam da fé (1Tm 6.20-21), que perverteriam a fé de outros por meio de seus ensinos heréticos (2Tm 2.18), e que se tornariam reprovados quanto à fé (2Tm 3.8). Ele disse que chegaria um tempo em que os cristãos professos, de um modo geral, não suportariam a sã doutrina, mas desviariam seus ouvidos da verdade, voltando-se para as fábulas que não têm qualquer fundamento na Palavra de Deus (2Tm 4.2-4). Ele disse que os padrões morais no testemunho cristão também se degenerariam até chegarem ao mesmo nível dos praticados entre os pagãos (2Tm 3.1-5; cf. Rm 1.28-32). Ele falou de impostores que se levantariam professando conhecer a verdade, os quais imitariam os poderes miraculosos de Deus em uma tentativa de resistirem à verdade (2Tm 3.7-8). Ele também falou que as coisas NÃO melhorariam, mas que "homens maus e enganadores" dentro do testemunho cristão (pois é este o contexto do artigo) iriam "de mal para pior" (2Tm 3.13). Basta darmos uma olhada superficial no testemunho cristão de nossos dias para vermos que todas essas previsões chegaram ao seu triste cumprimento.

O TESTEMUNHO DE MATEUS

Nas parábolas do reino dos céus o apóstolo Mateus indica o mesmo abandono da ordem de Deus. Nelas o Senhor Jesus disse que um inimigo (Satanás) viria e semearia "joio no meio do trigo". Isto indica que no reino dos céus haveria a intromissão de professantes falsos e sem vida. Como resultado disso, o reino teria uma mistura de crentes verdadeiros (trigo) e falsos professantes (joio), os quais não seriam separados até o fim desta era (Mt 13.24-30,38-41).

Mateus registra que o Senhor Jesus ensinou às multidões que um vasto sistema cresceria a partir da simplicidade original do cristianismo, e que, no final, não sobraria qualquer semelhança daquilo que era no princípio. Isso nos fala claramente do abandono da simplicidade da Igreja e do início de um sistema institucionalista cheio de denominações religiosas, cada qual com sua doutrina preconcebida, o qual dividiria o “Corpo de Cristo”. Ele usou a figura de uma "semente de mostarda" sendo plantada na terra e crescendo demais, até se tornar uma imensa árvore, na qual as aves do céu viriam se aninhar. A grande árvore nos fala de domínio e poder (Ez 31.3-7; Dn 4.10,11,22-34). O Senhor indicava, assim, que a profissão cristã se desenvolveria na forma de uma grande instituição mundana, dando ao cristianismo um aspecto de grandeza e pretensão. A profissão cristã acabou se transformando em um grande sistema de religião, política e negócios. Nela os homens se esforçam para conseguir honra, grandeza e poder. As "aves do céu" nos falam de espíritos malignos (Ap 18.2) que se apoderariam das mentes dos homens e os influenciariam para que ensinassem doutrinas de demônios (1Tm 4.1).

Se você já teve a oportunidade de presenciar o barulho que sai de uma árvore cheia de pássaros, certamente entendeu o quão exata é essa figura da confusão que existe no testemunho cristão. As aves estão todas gorjeando ao mesmo tempo, todas elas aparentando ter algo a dizer, mas suas vozes são todas conflitantes. É isso o que ouvimos quando atentamos para as milhares de vozes das várias assim chamadas “igrejas” existentes na cristandade (Mt 13.31-32).

O Senhor Jesus continuou, falando da mulher que introduziu "fermento" em "três medidas de farinha" (Mt 13.33). Isso nos fala de outro aspecto da ruína que se abateu sobre a profissão cristã. Se as aves na imensa árvore ilustram a grande confusão na profissão externa da cristandade, por meio da criação de denominações religiosas (instituições), a qual iria se desenvolver, o fermento na massa nos fala da grande corrupção interna que acabaria permeando a cristandade. Nas Escrituras, o fermento é uma figura ou tipo do mal (Mt 16.6; Mc 8.15; 1Co 5.6-8; Gl 5.7-10). A "massa" é uma figura de Cristo, que é "o Pão da vida". É Ele o alimento espiritual dos filhos de Deus (Jo 6.33-35,51-58). Portanto, o Senhor indicou que a Igreja professa (a mulher) iria corromper o alimento dos filhos de Deus ao introduzir má doutrina na Igreja, misturando-a com a verdade acerca da Sua Pessoa. E foi exatamente o que aconteceu. Na vasta profissão da cristandade, muitos ensinos heréticos e malignos têm sido associados à Pessoa de Cristo.

Sendo assim, estas três parábolas no evangelho de Mateus indicam que haveria a introdução de pessoas malignas (Mt 13.24-30), espíritos malignos (Mt 13.31-32; 1Tm 4.1) e doutrinas malignas (Mt 13.33).

Algumas outras similaridades do reino, no evangelho de Mateus, também indicam essa ruína que acabaria se introduzindo na Igreja. Por exemplo, Mateus 25.1-13 diz que todas as dez virgens tosquenejaram e adormeceram. Elas estavam dormindo quando deveriam estar vigilantes.

O TESTEMUNHO DE PEDRO

O apóstolo Pedro também falou dos ensinos malignos que surgiriam no testemunho cristão. Ele disse que falsos mestres se levantariam dentre os santos de Deus e introduziriam "heresias de perdição" que muitos seguiriam – até ao ponto de falarem mal do caminho da verdade (2Pd 2.1-3; 3.16).

Heresia não é somente ensinar má doutrina, mas criar seitas – denominações. Uma "heresia" ou "seita" é, por definição, a criação de um partido ou divisão dentro de uma igreja, o qual rompe com as demais denominações e forma a sua própria comunhão em torno de uma opinião particular ou doutrina preconcebida. Embora a heresia esteja conectada ao ensino de coisas heterodoxas e blasfemas, ela é, na sua mais pura essência, a formação de uma divisão notória na Igreja. A heresia, predominantemente, está associada à formação de denominações (sectarismos ou seitas). Por se afiliarem a essas denominações criadas por homens, os membros dessas instituições constantemente pensam em heresia apenas como um errinho teológico ou “questão secundária” (termo muito usado hoje pelos liberalistas teológicos). A mais sutil de todas as heresias é aquela que se desenvolve em torno de alguma parcela da verdade até excluir outras verdades. Podem existir muitos verdadeiros crentes conectados a essas heresias. Todavia, uma "heresia de perdição", da qual Pedro fala, é uma seita (denominação) que constrói sua causa em torno de doutrinas destruidoras de almas.

Quando observamos a vasta profissão da cristandade, vemos todas as inúmeras divisões e seitas que existem na igreja. Segundo estatísticas recentes, existem hoje mais de mil comunhões denominacionais! Felizmente podemos dizer que alguns desses grupos eclesiásticos não se constituem heresias "de perdição", embora não deixem de serem divisões na Igreja, o que desemboca inevitavelmente em sectarismo. Além disso, não podemos nos esquecer de que as Escrituras nos ordenam a rejeitar a heresia porque é uma obra da carne (Tt 3.10,11; 1Co 11.19; Gl 5.20). “Ao homem herege, depois de uma ou duas admoestações, evita-o, sabendo que o tal está pervertido, e vive pecando, estando já em si mesmo condenado” (Tito 3.10,11).

O TESTEMUNHO DE JOÃO

Enquanto o apóstolo Paulo nos alerta sobre aqueles que retrocedem às más doutrinas, abandonando a revelação da verdade cristã (Hb 10.38-39), o apóstolo João adverte a respeito daqueles que a ultrapassam (ou "prevaricam") e não permanecem nela (2Jo 9). João falou desse desvio como resultado do trabalho de mestres anticristãos. A respeito deles, João afirma: "Saíram de nós, mas não eram de nós" (1 João 2.19).

Ao dizer "nós", aqui e em muitos outros lugares de sua epístola, João está se referindo aos apóstolos. Sair da comunhão e doutrina dos apóstolos é o mesmo que abandoná-las. Enquanto João se referia primariamente ao abandono da doutrina concernente à Pessoa de Cristo, podemos ver que o testemunho cristão não parou por aí. Muito daquilo que é aceito como ordem na igreja não tem qualquer fundamento nos ensinos dos apóstolos. O que vemos nos faz lembrar o que o Senhor disse aos Fariseus, ao afirmar que eles estavam "ensinando doutrinas que são mandamentos de homens". Ele também disse: "Bem invalidais o mandamento de Deus para guardardes a vossa tradição" (Marcos 7.7,9).

O TESTEMUNHO DE JUDAS

Judas também nos diz que certos homens se introduziriam furtivamente entre os cristãos e converteriam "em dissolução a graça de nosso Deus" (Jd 1.4). Ele descreve o caráter dos que corromperiam o testemunho cristão como pessoas que entrariam "pelo caminho de Caim", sendo levadas "ao erro de Balaão", e perecendo "na rebelião de Coré" (Jd 1.11). Estas três coisas descrevem muito bem o tipo de erro eclesiástico que hoje prevalece na cristandade.

Primeiro, há o "caminho de Caim", que descreve a tentativa de se mostrar boas obras para Deus como forma de ser aceito por Ele. Caim era um homem religioso por ter oferecido um sacrifício a Deus, mas o que ele ofereceu a Deus, numa tentativa de obter aceitação, foi obra de suas próprias mãos, sendo rejeitado por isso (Gn 4.1-5). Sua oferta não tinha o sangue que prefiguraria o sacrifício cabal do sangue derramado do Senhor Jesus Cristo, sem o qual ninguém pode ser abençoado por Deus. Hoje está sendo pregado nos púlpitos de muitas denominações religiosas um evangelho sem sangue, o qual nem mesmo é o evangelho. Por meio dele muitos têm sido levados a crer que podem apresentar suas boas obras a Deus em troca de aceitação e salvação, mesmo que a Bíblia indique claramente que a salvação "não vem das obras" (Ef 2.8,9; Tt 3.5; Rm 4.4-8).

Em seguida vemos o "erro de Balaão", que nos fala do desejo de ensinar coisas que não provêm de Deus em troca de dinheiro e posição. Balaão se apresentou a Balaque e aos moabitas como um profeta com a intenção de profetizar a eles visando prejudicar o povo de Deus (Nm 22-24). Ainda que muitos pregadores de hoje talvez não tenham a intenção de prejudicar o povo de Deus, muitos deles estão, do mesmo modo, ensinando doutrinas estranhas à Igreja. Trata-se de homens que claramente ensinam doutrinas que não são encontradas nas Escrituras para igualmente buscarem posições elevadas na igreja.

Finalmente temos a "rebelião de Coré", que é a organização de um partido de homens que desafiam a ordem dada por Deus para o sacerdócio. Coré e seus correligionários queriam uma posição acima do povo de Deus, a qual não lhes havia sido concedida por Deus. Na profissão cristã existe uma organização similar de uma classe especial de homens para presidirem sobre o rebanho de Deus, o que é conhecido como clero. Esses homens falam deliberadamente do rebanho de Deus como se fosse o rebanho "deles". Esse tipo de organização, da qual estamos tratando desde o início deste artigo, pode muito bem ter surgido com boas intenções, e pode ser que existam muitos que atualmente ocupam esse lugar de boa mente, mas mesmo assim trata-se de um sistema de coisas que não tem qualquer fundamento na Palavra de Deus. Em essência, tal sistema desafia o genuíno sacerdócio que pertence a cada crente.

O TESTEMUNHO DO SENHOR

Finalmente, o próprio Senhor condena um grupo de pessoas que se levantaria na Igreja, chamados de "nicolaítas" (Ap 2.6,15). Essas pessoas introduziram impurezas no testemunho cristão; e pelo significado de seu nome, muitos estudiosos da Bíblia concluíram que estas podem muito bem ter sido as primeiras sementes do clericalismo. A palavra "nico" significa "governar", e "laitan" – que é a mesma palavra para laico – significa "povo". Os nicolaítas eram um partido formado por pessoas que aparentemente buscavam meios de "governar sobre o povo" e, por isso, poderiam muito bem ter sido o início do sistema que faz distinção entre clero e leigos. O Senhor nos diz especificamente que as "obras" e as "doutrinas" dos nicolaítas são coisas que Ele odeia (Ap 2.6,15).

Temos nisso tudo um testemunho abundante de quase todos os escritores do Novo Testamento sobre o fato de que haveria um grande distanciamento da simplicidade da fé cristã, do evangelho da graça e da Igreja (2Co 11.3-4). Os apóstolos nos disseram que, em sua ausência, surgiria um sistema de coisas que não teria qualquer fundamento na Palavra de Deus. É verdade que em algumas igrejas ocorre uma parcela maior desse erro eclesiástico do que em outras. Todavia, seja na basílica de São Pedro em Roma, seja na menor capela evangélica, a maioria delas – se não todas – traz os princípios básicos do clericalismo inseridos em seus sistemas de governo.

O crente que é instruído segundo os pensamentos de Deus não tem alternativa senão admitir que aquilo que se apresenta aos homens como a Igreja de Deus hoje tem pouca ou nenhuma semelhança com a Igreja de Deus conforme é apresentada nas Escrituras. Sua pergunta poderá ser: "O que aconteceu?" Em poucas palavras, a resposta é que nós (a Igreja) fracassamos.

Continua em: 
A Casa de Deus em 1 Timóteo 3.15

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SUMÁRIO - O EVANGELHO sem Disfarces

– Fonte 1: Facebook JP Padilha
– Fonte 2: Página 
JP Padilha
– Fonte 3: 
https://jppadilhabiblia.blogspot.com/
– Fonte 4: 
https://jppadilhabiblia2.blogspot.com/

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